quinta-feira, 16 de julho de 2015

[RESENHA] "VANGO - ENTRE O CÉU E A TERRA", DE TIMOTHÉE DE FOMBELLE

Nome: Entre o Céu e a Terra
Autor: Timothée de Fombelle
Série: Vango (#01)
Editora: Melhoramentos
Onde comprar: Buscapé

Livro enviado pela editora como cortesia
Salvar a pele e, ao mesmo tempo, descobrir a própria identidade: esses são os grandes desafios de Vango. Ao ler esse thriller histórico, ambientado no conturbado período entre as duas grandes guerras mundiais, somos impelidos a fugir com esse rapaz órfão de 19 anos que desconhece sua origem e tenta entender por que a polícia e um franco-atirador estão em seu encalço.

A narrativa começa na solenidade em que Vango e outros seminaristas seriam ordenados padres na Catedral de Notre-Dame, em Paris. O assassinato do padre Jean, seu protetor, desencadeia a perseguição ao rapaz, suspeito do crime, que empreende uma fuga espetacular ao escalar nada menos do que os famosos vitrais da catedral. Essa cena é apenas um exemplo da aventura de que é feita toda a saga, em que acompanharemos nosso protagonista em situações e lugares improváveis – pulando de um trem em movimento, escondido na copa das árvores num bosque da Escócia ou dependurado num zepelim sobre um vulcão.

O fracasso em não ter sido ordenado padre deixa nosso herói arrasado, mas a jovem Ethel, porém, fica bem feliz. É ela quem vai ajudar Vango a provar sua inocência. A saga traz outros personagens marcados por segredos, como Mademoiselle, a senhora poliglota e sem memória com quem Vango é salvo do naufrágio na costa da Sicília aos 3 anos, e Hugo Eckener, personagem verídico, comandante do Graf Zeppelin, o grande dirigível que fascinou o mundo nas primeiras décadas do século XX. Algumas personalidades incorporadas à história são Joseph Stalin, sua filha Svetlana e Adolf Hitler.


A trama nos apresenta a Vango Romano, um jovem órfão que cresceu em uma ilha sob os cuidados de sua babá, conhecida apenas como Mademoiselle. O protagonista está em seus dezoitos anos de idade e prestes a se tornar padre quando policiais aparecem em plena cerimônia para prendê-lo pelo assassinato do Padre Jean, mentor de Vango.

Inicialmente o protagonista sequer sabia do que estava sendo acusado, mas decide não ficar para saber e em uma cena grandiosa, foge ao escalar a espetacular Catedral de Notre Dame. Porém, esse não é o único grande problema de Vango.

Já faz alguns anos que o jovem rapaz sente que está sendo perseguido por alguém que deseja matá-lo, no entanto no seminário ninguém nunca acreditou nele, definindo sua mania de perseguição como “Paranoia”. Os temores de Vango se comprovam quando, durante sua fuga diante de toda uma multidão, alguém tenta assassiná-lo ao disparar vários tiros contra ele.
“Achava que estava sendo perseguido: eram automóveis que o seguiam na rua, vistorias em seu quarto quando não estava lá, um andaime que caía bem atrás dele como se fosse por acaso e a briga noturna no claustro dos carmelitas contra uma sombra com uma faca.
Alguém queria sua pele.
Distúrbio paranoico, delírio de perseguição.”
Vango consegue se livrar da polícia e de seu carrasco, e a partir daí dá início a uma incrível jornada em busca de socorro. Escalando uma igreja na França, pegando uma carona no famoso dirigível Graf Zeppelin - que parte da Alemanha, aterrissando ao redor do vulcão Stromboli, retornando as Ilhas onde cresceu, visitando a Escócia e então de volta a sua casa nas Ilhas localizadas na Itália. O protagonista vive uma verdadeira aventura enquanto foge, contando com a ajuda de vários amigos para manter-se escondido, enquanto tenta sobreviver e encontrar uma maneira de provar sua inocência.

Vango é um personagem ousado e sagaz, dono de um passado misterioso do qual nem mesmo ele tem conhecimento, que é o que liga ele as pessoas que o perseguem. O fato de haver poucas informações sobre ele rendem momentos engraçados quando envolve o delegado que investiga o assassinato do Padre Jean e que, é claro, está à procura de Vango. Mas mais do que isso é a forma como o mistério afeta o leitor, que devora as páginas querendo saber mais sobre o protagonista e os motivos que leva um certo alguém a mandar seus capangas atravessar países na intenção de enviar Vango dessa para uma melhor.
“                 Penso sempre em você, Mademoiselle. Estou bem, um beijo.

Quatro cartas secas, como cartas de guerra. Boa saúde e bom moral.
Vango avançava na vida apagando seus rastros. Ele não chamava mais isso de paranoia e, sim, de sobrevivência.”
A narrativa, em terceira pessoa, acompanha vários personagens, sejam eles inimigos ou amigos de Vango. Ao longo da história vamos acompanhando um pouco da vida de cada um, vendo-os lidar com problemas pessoais, ao mesmo tempo em que se deparam com situações que de alguma forma envolvem o protagonista.
“Ele sentiu o poder de um rápido encontro. Vidas que se afetam com apenas um esbarrão, porque passam uma pela outra com mais ímpeto.”
Ambientada no período entre as duas Grandes Guerras Mundiais, “Vango – Entre o Céu e a Terra” conta uma história fantástica, com uma narrativa bem construída que mistura alguns eventos reais com ficção. A obra está cheia de personalidades históricas, onde uns podem aparecer um pouco menos que outros, mas as consequências das ações desses que mal aparecem marcam presença durante a maior parte da história. Adolf Hitler (ditador nazista da Alemanha), Stalin (líder do partido comunista da Rússia) e Hugo Eckener (comandante do famoso dirigível Graf Zeppelin) são apenas alguns nomes famosos que são citados em “Vango”.

Apesar da grossura do livro, “Vango” possui apenas trezentas e poucas páginas, que carregam uma história maravilhosamente envolvente, que prende o leitor desde a primeira frase. Desde o início eu fui enlaçada pela atraente e inteligente narrativa, que rapidamente devorei.
“Vango já havia pulado no Trem.
Era o primeiro trem da madrugada. Ia para o centro de Londres.
[...]
Ele se aproximou da porta.
Não confiava mais em nada nem em ninguém.
Desconfiaria até de um recém-nascido.”
A Editora Melhoramentos com certeza acertou ao trazer para o Brasil uma história tão fantástica. Não posso deixar de citar o trabalho que eles fizeram em relação à revisão e diagramação, que está excelente, a altura de uma trama tão incrível como “Vango”. O livro possui um ótimo tamanho e fonte de letra, além de contar com algumas imagens do dirigível Graf Zeppelin – me ajudou muito na hora da leitura - e uma linha do tempo que explicando o contexto histórico da época. 

“Vango – Entre o Céu e a Terra” é o primeiro volume de uma duologia. A história acaba em um momento “OMG”, o que me deixou completamente agoniada para desvendar os segredos envolvendo o protagonista e consequentemente ansiosa pela continuação, que espero que não demore a chegar ao Brasil.

Leitura mais que recomendada para quem curte uma aventura inteligente e bem trabalhada, do tipo que te faz mergulhar de cabeça na história e, se tiver uma boa imaginação, sentir-se parte dela.
“Pequenos milagres podem acompanhar grandes desgraças. Era isso o que Vango sempre pensara. Bastava ter confiança.”

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