quinta-feira, 20 de julho de 2017

[RESENHA] "O CEIFADOR", DE NEAL SHUSTERMAN

Nome: O Ceifador
Série: Scythe #01
Autor: Neal Shusterman
Editora: Seguinte
Onde comprar: Buscapé

Livro enviado como cortesia pela editora
"Primeiro mandamento: matarás."

A humanidade venceu todas as barreiras: fome, doenças, guerras, miséria… Até mesmo a morte. Agora os ceifadores são os únicos que podem pôr fim a uma vida, impedindo que o crescimento populacional vá além do limite e a Terra deixe de comportar a população por toda a eternidade.

Citra e Rowan são adolescentes escolhidos como aprendizes de ceifador — um papel que nenhum dos dois quer desempenhar. Para receberem o anel e o manto da Ceifa, os adolescentes precisam dominar a “arte” da coleta, ou seja, precisam aprender a matar. Porém, se falharem em sua missão — ou se a cumplicidade no treinamento se tornar algo mais —, podem colocar a própria vida em risco.


“O Ceifador” nos transporta para muitos anos à frente, em um futuro quase perfeito. A tecnologia venceu a morte e a humanidade é imortal, tendo a opção de rejuvenescer a própria aparência sempre que quiser. Todos os problemas sociais foram abolidos e o mundo é regido pela Nimbo-Cúmulo, uma evolução consciente da “Nuvem” que supervisiona a raça a humana e guarda em sua memória todas as informações que uma pessoa pode precisar.

Há apenas uma questão que a Nimbo-Cúmulo não pode resolver: superpopulação mundial. Com a população crescente e imortal, os próprios humanos tiveram que lidar com essa questão e assim foi criada a Ceifa, um tipo de instituição a parte da Nimbo-Cúmulo que é responsável pela coleta (um nome formal para o ato de matar). As pessoas incumbidas da coleta são chamadas de ceifadoras e sendo sua profissão tão importante para o mundo, elas estão acima da lei, respeitado somente um conjunto de dez regras estabelecidas pela própria Ceifa.
“Quando se decidiu que as pessoas precisavam morrer para conter a onda de crescimento populacional, também se decidiu que isso deveria ser responsabilidade dos humanos. O conserto de pontes e o planejamento urbano poderia ser entregue à Nimbo-Cúmulo, mas tirar uma vida era um ato de consciência e senso moral. Como não se podia comprovar que a Nimbo-Cúmulo tinha nenhum dos dois, nasceu a Ceifa.”
Rowan Damisch e Citra Terranova são os protagonistas da história, dois jovens de famílias diferentes e que terão seus caminhos cruzados ao se tornarem aprendizes de um mesmo Ceifador – apesar da relutância de ambos. Eles deverão deixar tudo para traz e juntar-se ao Ceifador Faraday para aprender sobre todos os aspectos do ofício, além de realizar três avaliações durante uma grande assembleia chamada de Conclave, no qual ambos serão testados sob os olhares de vários Ceifadores. No final de tudo apenas um deles será o escolhido.

Citra é astuta, esforçada, corajosa e tem pavio curto. Sua ousadia faz com que fale mais do que deveria. Ela também é bastante curiosa, persistente e observadora, características muito importantes para certos acontecimentos do livro. Seus pais são muito carinhosos e atenciosos com ela e o irmão mais novo, Ben, e esses sentimentos são recíprocos da parte dela.

Rowan também é muito inteligente e observador, mas de um jeito silencioso. Ele capta tudo ao seu redor, mas não deixa suas emoções e pensamentos transparecerem. Rowan cresceu em uma família grande e egoísta, cheia de pessoas que jamais deram a mínima atenção para ele. A atitude indiferente é sua forma de lidar com a situação, mas no fundo ele é apenas um garoto solitário com o desejo que ter alguma importância para alguém.

“O Ceifador” foi uma leitura extremamente agradável e surpreendente. A história é bem construída e possui muitas reviravoltas, o que deixa o leitor ávido por ler mais e mais, tentando adivinhar o que vai acontecer a seguir, quem é o culpado por certas ações e qual o caminho que a narrativa está tomando, mas você não consegue fazer isso porque o autor engana os personagens e os leitores, enquanto a trama se desenrola cheia de ritmo e tensão.

O que você idealiza como um mundo perfeito? Imagine um mundo sem dor, sem morte, sem um governo corrupto e um sociedade vivendo como igual, sem pobreza. Assim é a vida na história de “O Ceifador” e enquanto ela poderia ser descrita como perfeita, isso não é realmente verdade. Exceto pelos ceifadores, as pessoas não temem nada e se tornaram superficiais, vivendo automaticamente com suas emoções controladas e sem ter um sonho ou futuro ao qual batalhar para alcançar. A verdade é que elas não vivem, mas apenas existem.
“Não somos os mesmos seres que fomos no passado. [...] O que emocionava os humanos mortais é incompreensível para nós. Apenas as histórias de amor atravessaram nossa barreira pós-mortal e, mesmo assim, ficamos atônitos diante da intensidade do desejo e da ameaça de perda que pairava sobre as histórias de amor daquela época.”
Os personagens foram bem desenvolvidos e cada um possui características marcantes, foi incrível acompanhar a evolução dos protagonistas durante a trama. Citra amadureceu muito e soube utilizar todas as suas características a seu favor, até mesmo aquelas que poderiam ser consideradas negativas. Rowan foi sem dúvida o personagem mais surpreendente em sua evolução. Sua caminhada para se tornar um ceifador foi mais difícil que a de Citra e isso o modificou de muitas formas, mas o mais importante é que ele se manteve fiel aos seus pensamentos.

A edição está um capricho. A arte é harmoniosa em suas cores e chama atenção logo de cara, com detalhes que talvez você só percebe com um pouco de observação – estou falando das faces de Citra e Rowan, amei! A diagramação também é digna de elogios. Os capítulos intercalam os pontos de vistas dos dois protagonistas e no meio você ainda encontra trechos dos diários dos ceifadores, o que permite ao leitor vislumbrar um pouco da mente deles.
“O que mais desejo para a humanidade não é a paz, o consolo ou a alegria. É que ainda morramos um pouco por dentro toda vez que testemunhemos a morte de outra pessoa. Pois só a dor da empatia nos manterá humanos. Nenhum Deus vai poder nos ajudar se algum dia perdermos isso”
“O Ceifador” é uma ótima leitura para aqueles que apreciam uma boa distopia. Com uma narrativa tão envolvente e um mundo todo original, você se perde na trama e passa pelas páginas sem ao menos perceber. Não achei o desfecho chocante, mas muito inteligente e nada óbvio e não exige uma sequência, apesar desse ser o primeiro livro de uma série.

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